O que é Terroir? O caminho para chegar à reposta desta questão não é dos mais tranquilos, uma vez que a definição desse termo foi objeto de diversos debates por longos anos. Há algum tempo atrás, porém, a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) chegou a uma definição oficial sobre seu significado:
Terroir: conceito que remete a um espaço no qual está se desenvolvendo um conhecimento coletivo das interações entre o ambiente físico e biológico e as práticas enológicas aplicadas, proporcionando características distintas aos produtos originários deste espaço.
Achou complicado? O Guia Larousse traz uma definição um pouco mais clara e menos técnica:
Terroir é uma palavra francesa sem tradução em nenhum outro idioma. Significa a relação mais íntima entre o solo e o micro-clima particular, que concebe o nascimento de um tipo de uva, que expressa livremente sua qualidade, tipicidade e identidade em um grande vinho, sem que ninguém consiga explicar o porquê.
Elementos do Terroir e o micro-clima
O terroir é formado por alguns componentes, que desempenham papéis fundamentais na elaboração do vinho. O solo e a topografia da região vitivinícola, assim como seu clima são os principais destes elementos, que interagem para determinar o que chamamos de “micro-clima” do vinhedo.
Observar e analisar fatores típicos de cada região – tais como: características e qualidade do solo, relevo, altitude e temperatura da região, quantidade e regularidade de luz solar, incidência de chuva, vento e umidade – foi, por séculos, a ocupação dos vitivinicultores. Trabalho esse que servia para determinar a melhor uva para ser cultivada dentro daquele contexto específico e para descobrir qual cepa produziria o vinho de melhor qualidade naquele local.
O terroir é o ambiente natural de uma região produtora de vinhos, englobando todos os seus aspectos – não só os elementos do meio ambiente em si, mas também aqueles relativos à atuação do ser humano na elaboração do produto – e que contribui para dar ao vinho uma especificidade única. Um bom enólogo (responsável pela elaboração do vinho) certamente vai se beneficiar do Terroir, extraindo o melhor produto possível de determinado vinhedo. Ou seja, para se fazer um bom vinho, o produtor deve, antes de tudo, conhecer o terroir da sua região.
Exemplos da interação entre o Terroir e o vinho
O terroir sempre exerce influência nos vinhos. Existem, contudo, regiões em que essa interação é mais marcante, sendo estudada e reconhecida há muitos anos.
Exemplo claro é a Borgonha, na França. Os vinhos produzidos a partir das uvas ícones da região – a tinta Pinot Noir e a branca Chardonnay – têm características muito diferentes entre si de acordo com o local onde foram elaborados. Assim, analisando especificamente os vinhos da região de Côte d’Or, vemos que os Pinot Noir produzidos em Côte de Nuits (parte norte de Côte d’Or) são excepcionais e encorpados, mas precisam de tempo para evoluir e mostrar todas a variação de aromas e gostos, enquanto que em Côte de Beaune (no sul) se produzem Pinot Noir elegantes e delicados, menos complexos e que precisam de menos tempo para evoluir. É o terroir fazendo toda a diferença.
Outro exemplo famoso é Bordeaux, também na França, onde são utilizadas, predominantemente, as uvas tintas Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc. Um dos rios que corta a região é o Garonne. Em sua margem esquerda, os solos são arenosos com cascalho e, na margem direita, a terra tem composição variada, fazendo com que as castas se adaptem de forma distinta em uma e outra margem. Assim, à esquerda predomina a Merlot, enquanto que à direita, os vinhos têm predominância de Cabernet Sauvignon. Exemplo de vinho da margem esquerda é o ícone Pétrus, rico, potente, complexo e elegante. Da margem direita vem o vigoroso, complexo, harmônico e macio Château Mouton Rothschild.
Dessa forma, mais que uma simples palavra, terroir é um conceito completo e complexo. É um conjunto de fatores que influencia o desempenho do vinhedo, a qualidade da uva colhida e acaba participando da personalidade final do produto, como se fosse uma assinatura de cada região produtora. Não por acaso, o termo não possui tradução em outros idiomas, exprimindo toda a sutileza dessa bebida ao mesmo tempo milenar e atual que é o vinho.
Fonte: Revista Adega