Qualidade de vida não é luxo: é resultado da construção coletiva

Recentemente, estive na Bahia colaborando com a OCEB – Organização das Cooperativas do Estado da Bahia – na definição de diretrizes para fortalecer as cooperativas da região. Em uma das visitas técnicas, conheci um grupo de agricultores que antes plantava mandioca e vendia a produção para atravessadores, muitas vezes a preços injustos. Esses produtores, por meio da cooperativa, passaram a transformar a mandioca em farinha de alta qualidade, agregando valor e mudando suas vidas. A renda melhorou, os filhos puderam permanecer na comunidade e até a autoestima coletiva se fortaleceu. Exatamente a mesma coisa que a Cooperativa Aurora faz a tanto tempo e nem sempre nos damos conta.

Essa vivência me veio à mente enquanto lia um relatório recente da OCDE sobre padrões de vida ao redor do mundo. Utilizando o Better Life Index, a organização analisa não apenas indicadores econômicos, mas também saúde, educação, segurança, participação cívica, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, entre outros. Os países com os melhores resultados — Noruega, Suécia, Suíça — são justamente aqueles que investem em bem-estar de forma ampla e contínua. O Brasil, infelizmente, ainda ocupa posições baixas no ranking, especialmente nos aspectos de segurança, renda e acesso a serviços de qualidade.

Esse retrato se confirma nos dados mais recentes do Relatório Luz da Sociedade Civil sobre os ODS. O Brasil enfrenta grandes desafios nos ODS 1 (Erradicação da pobreza), 3 (Saúde e bem-estar), 4 (Educação de qualidade) e 10 (Redução das desigualdades). Muitos indicadores estagnaram ou regrediram. Mas, como mostram os produtores de farinha na Bahia, há caminhos de superação construídos por quem aposta no trabalho coletivo.

É exatamente nesse ponto que entram as cooperativas que operam com base na identidade cooperativista. Essas experiências se conectam com diversos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: promovem trabalho decente e crescimento econômico (ODS 8), reduzem desigualdades (ODS 10), asseguram padrões sustentáveis de produção (ODS 12) e valorizam a agricultura familiar (ODS 2). Quando o cooperativismo é vivido com autenticidade, ele não é apenas uma forma de organização econômica — é um modo de vida transformador.

Qualidade de vida não nasce do acaso. Ela é resultado de políticas públicas inteligentes, educação cooperativista, solidariedade entre produtores e visão de futuro. Os dados internacionais mostram onde estamos. Os exemplos brasileiros mostram para onde podemos ir.

A pergunta que fica é: que tipo de desenvolvimento estamos ajudando a construir? A resposta, muitas vezes, está no simples gesto de cooperar.

Referências utilizadas no texto:

OCDE – Better Life Index
https://www.oecdbetterlifeindex.org/

Relatório Luz 2023 da Sociedade Civil sobre os ODS no Brasil
https://gtagenda2030.org.br/wp-content/uploads/2023/10/rl_2023_webcompleto-v9.pdf

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ONU Brasil)
https://brasil.un.org/pt-br/sdgs

Identidade cooperativista – Aliança Cooperativa Internacional (ACI)
https://ica.coop/en/cooperatives/cooperative-identity

    Deivid Ilecki Forgiarini é especialista em Identidade Cooperativista e Gestão, com a missão de descomplicar conceitos e conectar pessoas. Com uma abordagem leve e prática, acredita que boas ideias só fazem sentido quando promovem desenvolvimento sustentável, enxergando no cooperativismo uma importante ferramenta para transformar vidas e fortalecer comunidades. Atualmente, é professor na Universidade Federal do Acre e coordena o mestrado profissional em Administração Pública, após uma longa trajetória como coordenador da graduação na Escoop – SESCOOP/RS.

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